“Amuri, onde você investe?”
Toda segunda-feira eu abro meu Instagram para que a turma que me segue por lá mande perguntas sobre planejamento financeiro (e sobre umas bobagens também), sempre rola um papo legal, e a questão que dá título a este texto surge desde sempre. Nunca havia considerado responder porque eu não teria espaço para nenhum aprofundamento, afinal, a ideia da plataforma lá é outra: são interações curtinhas, é bem legal para perguntas simples, mas ruim para explicações que demandam mais texto.
Por lá, eu senti que não conseguiria produzir algo realmente útil e benéfico, que fosse capaz de ir além da curiosidadezinha que surge a respeito da vida de alguém que a gente acompanha nas redes sociais. Mas talvez aqui, no meu site, a coisa funcione melhor – na verdade, se você está lendo este texto, é porque eu considerei que saiu algo interessante e que vale o meu tempo e de vocês. :)
Vamos ao nosso texto.
“Amuri, onde você investe?”
Estou compartilhando minha carteira, deixando claro que, de maneira nenhuma, eu incentivo que você replique a estratégia que eu venho utilizando. Cada pessoa tem perfil, percepções e demandas particulares, o que faz sentido para mim (ou para o José) pode não fazer sentido para a Rafaela. Estou puxando esse papo por aqui como forma de colocar o assunto na mesa – é um jeito lúdico de abordarmos uma série de pontos importantes relacionados ao universo dos investimentos, e eu aproveitarei a deixa para começarmos a análise pelo primeiro conceito, a liquidez:
Uma vez, em um curso presencial, um aluno explicou para outro aluno que “a liquidez é a capacidade que um investimento tem de ser transformado em comida no mercado” e eu achei essa definição bem boa. Um investimento que pode ser sacado (transformado em dinheiro) de um dia por outro, por exemplo, tem muita liquidez. Um investimento que não permite saque, tem liquidez baixa. No meu cenário, a maior parte dos investimentos tem liquidez bem baixa (ou nenhuma liquidez), afinal:
1. eu estou em uma fase produtiva (estou trabalhando!);
2. não pretendo adquirir nenhum bem mais caro (como uma casa ou algo assim) nos próximos anos;
3. uma vez que eu conto com o privilégio imenso de poder pagar um plano e um seguro de saúde, a parcela líquida da carteira já é capaz de cobrir um eventual acontecimento infeliz.
Então realmente não tenho a necessidade de ter todo o dinheiro a mão. Não é uma regra, mas, na maior parte dos cenários, é possível obter rentabilidades mais interessantes (sem aumentar – muito – a volatilidade) quando se está disposto a imobilizar o capital. Vou comentar cada uma das categorias com relação a risco e liquidez logo abaixo.
CDB com liquidez diária (0,9%)
Vamos no sentido anti-horário, começando pelo primeiro, o tal do CDB com liquidez diária. É uma das modalidades mais populares do Brasil e funciona de maneira bem simples: basicamente é um empréstimo ao banco, que, em contrapartida, paga juros. No caso, é um CDB que remunera 100% do CDI (algo muitíssimo próximo da taxa SELIC). Um pedacinho pequeno da carteira está por lá: 0,9%. É uma graninha que eu separo para algo muito imediato.
(caso você não consiga entender o que eu expliquei no parágrafo acima, recomendo que você escute a uma horinha sobre grana #1)
Multimercado (4%)
Seguindo no gráfico, temos um fundo multimercado com volatilidade alta. Não posso citar o nome das instituições (e, por consequência, dos fundos), porém não é nenhuma ciência de foguete, é um fundo bem popular que está disponível na maior parte das grandes corretoras. Ele possui liquidez D+30 (ou seja, caso eu queira sacar, eu peço e depois de 30 dias o dinheiro vem).
(sobre a logística de corretoras, bancos e etc., eu recomendo que você escute a uma horinha sobre grana #6)
LCI IPCA+ (6,2%)
O LCI IPCA+ também é um título (assim como o CDB que eu mencionei acima e que vai aparecer de novo logo mais), porém ele é indexado a inflação (IPCA). Então ele paga a inflação mais alguma coisa (é por isso que tem esse sinalzinho de “mais” no título). LCI é uma “letra de crédito imobiliário", ou seja, simplificando grosseiramente, o dinheiro que eu coloquei lá será utilizado no setor imobiliário. Atualmente, as LCIs e as LCAs (letras de crédito do agronegócio) são isentas de imposto de renda para pessoa física, logo, toda a rentabilidade que eu contratar é real. Eu tenho um título só, infelizmente, que eu comprei em uma época bem boa, e ele paga IPCA+ 5.6%, com vencimento em 2023.
Ações (17,4%)
Ações são pedacinhos de empresas. Quando seu amigo diz “ah, eu comprei uma ação da Petrobrás”, o que elas está dizendo é que se tornou dona de um pedaço (bem pequenininho, no caso, a não ser que seu amigo seja um bilionário) da Petrobrás. Existem diversas formas de investir em ações. As mais populares, sem dúvida, são: 1. comprar os papeis, diretamente (como no exemplo que eu dei no início do parágrafo) e 2. comprar cotas de um fundo de investimento que compre ações.
Eu não tenho tempo (nem estômago, nem paciência) para comprar os papeis, diretamente (e é provável que você não tenha também), então 100% do que eu invisto em ações é através de fundos. Utilizo três fundos, que possuem estratégias bem distintas (gosto dessa pequena diversificação, ela me deixa mais tranquilo).
Empréstimo (11.4%)
Eu ajudo a financiar duas empresas. Com o apoio de um contador, fiz um empréstimo para cada uma (com taxas bem mais baixas do que elas poderiam contratar em um banco), e elas me pagam parcelas mensais. Para elas é um negócio maravilhoso, para mim é um negócio “ok”. É provável que eu conseguisse taxas melhores em outros lugares, mas eu considero os dois projetos extremamente benéficos para a sociedade e fico feliz em, de alguma forma, apoiá-los.
É, provavelmente, o investimento mais arriscado da minha carteira, já que, de uma hora para outra, por n motivos, as empresas podem fechar, os sócios podem brigar, enfim, pode acontecer qualquer coisa e, provavelmente, eu deixaria de receber. Mas, como eu comentei, na minha visão, vale o risco.
De todo modo, eu não poria mais do que esse percentual (entre 10 e 15% – atualmente 11,4%) em operações desse tipo.
CDB IPCA+ (21.9%)
Assim como o LCI IPCA+, esta categoria também é indexada à inflação. São 6 títulos distintos, que eu comprei em momentos diferentes, mas todos eles tem vencimento para 2023/2024. As taxas variam entre IPCA+6 e IPCA+7 (ou seja, receberei, anualmente, a inflação mais esse prêmio, que varia entre 6 e 7%). Essa categoria, assim como o LCI, conta com a proteção do FGC (fundo garantidor de crédito), caso aconteça alguma pequena catástrofe com o banco que emitiu o título.
Debêntures (38.1%)
É o assunto que eu mais estudei nos últimos anos e, por consequência, é onde a maior parte da minha carteira está alocada. Uma debênture é um título de crédito (ou seja, um empréstimo) feito a uma empresa. Assim como no caso das ações, eu também não gosto de comprar o papel (a debênture, em si), então me restrinjo aos fundos de debênture que, de certa forma, fazem essa seleção.
Além de exigir um bocado de estudo, é um investimento que, ao meu ver, carece de timing: em determinadas épocas faz mais sentido do que em outras.
Moeda (1.5%)
Leitores atentos me avisaram que a soma dos percentuais do gráfico não totaliza 100%, eu fui ver o motivo e percebi que, por algum erro meu, o valor que separo em outra moeda (euro, no caso) não estava sendo listado. Não estou morando no Brasil nesse momento, então mantenho essa reserva para não ter dor de cabeça com câmbio+IOF.
Eu vou precisar entender tudo isso antes de investir?
Com certeza não. É interessante que você conheça as modalidades, que vá ganhando intimidade com o assunto, mas não deixe que esse mar de opções e letrinhas miudas te paralise. Em muitos, muitos casos, melhor do que escolher a melhor opção para começar no mês que vem, é pegar o que está a mão e começar agora.
Escrevi um pouquinho sobre isso na minha coluna dentro do Valor Investe, projeto do jornal Valor Econômico. O título é "Investimento feito é melhor que investimento perfeito", e o link para o texto está aqui →.
Por hoje é isto.
Um abraço grande e seguimos
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