Vidas possíveis: Rafaela, 34 anos, historiadora, “foco, foco, foco”
Esse é um dos perfis do capítulo "Vidas possíveis", do livro Dinheiro Sem Medo, publicado pela Editora Saraiva, em 2017.
A Rafa leva a coisa a sério. Tem um filho, o Matheus, de 6 anos. Se separou do ex-marido há 5 anos e se mudou com o filho de volta para a casa da mãe, em Osasco, região metropolitana de São Paulo. Só conseguiu colocar as finanças no eixo depois de enfrentar um período de crise, logo após a separação. "Foi no cartão de crédito". Se ela olha com a cabeça que tem hoje, julga a dívida pequena, mas não era essa a percepção da época. "Era grave o suficiente para fazer com que eu não dormisse tranquila". Diz que se endividou por conta da perda de um dos empregos. Ela tinha dois, um deles rendia 500 reais por mês, o outro 1500. Perdeu o que pagava melhor e teve que se virar com a renda do menor. Foi muito difícil. Hoje, mais experiente, recebe R$ 5800, somando salário, vale-refeição e auxílio-creche.
Quer um apartamento para morar só com o filhote, mais do que tudo, e já colocou o plano em prática, com foco de dar a inveja a palestrante motivacional em evento de fim de ano. Deu 40 mil de entrada, há 1 ano (valor juntado com disciplina espartana, mês a mês) e agora aguarda o início do financiamento, já que a obra atrasou. Ainda não sabe qual será o valor da parcela, mas já está se preparando: dos 5800 que recebe, separa algo entre 2000 e 3000. Já possui mais 40 mil guardados, na poupança. Perguntei se eram 40 mil redondos, ou se era mais ou menos, ela me respondeu, rindo, que não sabe, que olha pouquíssimo, pra não cair na tentação de gastar.
Vive com o cinto apertado, para dar conta de pagar a nova morada o mais rápido possível. O maior gasto é com a creche, 1100 reais. É a conta principal do mês. De alimentação, entre almoço na empresa e o mercado, vão 900. Ela e o filho fazem Kumon, que custa mais 430. Plano de celular por R$ 69, R$ 150 entre taxi e transporte público e R$ 200 em bares e festas. Na categoria vestuário, ela e o Matheus gastam, juntos, 100 reais por mês. "E tem mês que nem isso… não ligo muito pra roupa". Todos os meses vão 380 entre psiquiatra e remédios. Esse gasto é obrigatório há 2 anos, quando começou a sofrer com crises de pânico e ansiedade. No mais, 80 de academia e, vez ou outra, material para o Kumon e para a creche. Vida enxuta de quem aguarda um financiamento que promete ser bem puxado. Os gastos com a saúde do filho (médico e dentista) ficam por conta do pai.
Criou algumas rotinas para facilitar a vida e garantir que os planos se concretizem. O 13o, por exemplo, tem destino certo. "Metade vai pro presente de natal, meu e do Matheus, a outra metade vai direto para a poupança. Nesse mês de janeiro, por exemplo, eu comprei uma televisão, porque o Matheus gosta muito de jogar videogame e a TV de casa estava muito ruim. Eu ia comprar em dezembro, quando recebi, mas estava tudo muito caro, então resolvi segurar até aparecer alguma promoção. Só peguei a manha de organizar assim depois de ter quebrado a cara".
Perguntei se ela tinha algum gasto meio secreto, do qual ela tinha um pouco de vergonha. "Sex shop… mentira! Adoraria, mas morro de vergonha de entrar. Não tenho nenhum gasto vergonhoso, não. Nem drogas eu uso".
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