Sair da zona de conforto não é necessariamente bom

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Essa imagem é uma grande besteira.

Não tenho lá muita propriedade para falar sobre "zona de conforto" em um contexto mais amplo, mais geral, então, daqui, do alto da pretensão dos meus 30, meu ponto é cruzar essa expressão com o aspecto financeiro, especificamente.

Em se tratando de finanças, "sair da zona de conforto" não é necessariamente bom. Nem mau. Na verdade não é nada – é só um clichê de livro de auto-ajuda. 

Em algum lugar, num tempo distante, alguém afirmou que uma vida financeira organizada, ou melhor, uma relação saudável com o dinheiro, se conecta com três palavras: planilha, dor e sofrimento. Fomos induzidos a acreditar que, basta que estejamos em uma posição de desconforto, de privação, de concessão, para que, automaticamente, estejamos no caminho certo.

Frequentemente cruzo com pessoas frustradas, que embarcam em um discurso do tipo "poxa, mas já estou fazendo esse esforço gigantesco de deixar de sair no final de semana, já estou anotando tudo numa planilha há meses, já está tão complicado, não era para minha vida financeira estar melhorando?". Não necessariamente. Seria muito conveniente se tivéssemos a certeza de que, uma vez que estamos sofrendo, estamos no caminho certo. É triste constatar que o desconforto e a privação não tem relação direta com o equilíbrio financeiro.

Talvez, claro, tenhamos que trabalhar com concessões e, talvez, de fato, as coisas se mostrem um bocado duras, mas essa relação não é direta e causal. Anotar tudo numa planilha e tomar muita pancada na cabeça não implica em sucesso financeiro. 

Ter isso bem claro é muito importante, não para que a vida seja uma esbórnia ("afinal, se privação não resolve, bora pirar geral!"), mas para que nos preocupemos em praticar um olhar um pouco mais frio e embasado, já que com uma boa retórica conseguimos convencer a nós mesmos de quase qualquer coisa.

Há algumas horas, por exemplo, me convenci de que não poderia fazer exercício na praça, "porque precisava começar a trabalhar mais cedo, a semana está puxada, etc.". Tomei um banho, um café e comecei a trabalhar. Abri minha agenda e coloquei no papel as coisas que preciso fazer antes do almoço. Percebi que eu teria tempo  para a atividade física. Tempo de sobra. Enquanto escrevo esse parágrafo tudo o que me vem a cabeça é "poxa, mas de manhã minha argumentação parecia tão sólida...". Tudo discursinho barato do ser sonolento e enrolador que mora por aqui. Se eu tivesse listado minhas atividades de hoje, eu não teria desculpas. Ficaria óbvio o que dá e o que não dá. Tão importante quanto trabalhar duro é trabalhar de maneira inteligente.

Quando engatamos um "veja bem, estamos caminhando para um cenário mais interessante, ano que vem é capaz que seja melhor", vem o número com o pé na porta e fala "tá, mas é capaz mesmo? quanto melhor? e quando começa a melhorar? e como você vai medir se melhorou ou não?". Os números tem o poder de cortar nosso blablabla.

Sem uma visão clara do que está acontecendo, corremos o risco de passar um longo período achando que estamos, de fato, fazendo o que precisa ser feito, caminhando em direção ao objetivo, só porque estamos fora da zona que, na nossa visão, seria confortável.

É dolorido? É. Mas pelo menos é real. 

Quanto antes começarmos, melhor. 

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eduardo antunes