Bichinhos caóticos
"A economia clássica é baseada em uma criatura fictícia que recebeu o nome em latim Homo economicus [...]. Essas criaturas são realmente inteligentes: dê a elas 20 opções de hipotecas e elas saberão imediatamente qual é a melhor; elas não tem problema algum de auto-controle; nunca tiveram uma ressaca. [...]
Às vezes, eu brinco que nós [os economistas comportamentais] estudamos o HOMER economicus [dos Simpsons!]. Nós, os humanos, parecemos muito mais com ele do que com o Homo economicus da economia clássica."
Nas longas horas de estrada entre São Paulo e Brasília eventualmente conquistei o direito escolher o próximo podcast a ser escutado por mim, Gabriela e Jorginho – que provavelmente é o cão mais politizado deste país depois de tantas horas de Petit Journal (um ótimo podcast, aliás).
Exerci meu direito e demos o play em uma entrevista que o Richard Thaler ofereceu ao Dan Harris, no Ten Percent Happier. Sempre fico impressionado com a simplicidade e carisma com que o Thaler se movimenta. Constantemente atencioso, humilde e gentil, mesmo sendo um dos economistas mais relevantes e respeitados da sua geração. Com a ajuda de um monte de gente, aqui está a entrevista transcrita e traduzida, na íntegra, separe por aí para ler depois!
Tenho um comentário sobre esse trechinho marcado que destaquei logo no começo do texto.
Não sei se vocês já tiveram a oportunidade de programar um software de computador – é uma habilidade deliciosa de se ter. Naquele contexto, restrito e com algumas ressalvas, você é um deus.
Você manda, o computador obedece.
Você manda de novo, o computador obedece, de novo.
Você escreve um comando, o computador te dá uma resposta.
Você escreve outro comando, o computador te dá outra resposta.
Salvo as intempéries técnicas, o computador é previsível e não temperamental. Ele nunca vai retornar uma mensagem do tipo “viu, estou meio chateado, com um enjoo, não vou fazer essa conta que você está me pedindo, tá? beijo, tchau”.
Ao contrário da gente. A gente é um caos. Temos dores, mau humor, sono, saudade. Uma infinidade de diferentes estados, fatores, variáveis, paisagens mentais. Aqui vai minha pergunta, que é o ponto central desse nosso papo: estamos nos planejando financeiramente como se fôssemos bichinhos caóticos e complicados, ou como se fôssemos um computador da NASA?
Estamos considerando, como premissa, que nosso planejamento tem que funcionar relativamente bem, mesmo com todas as oscilações de humor e disponibilidade cognitiva? Ou, pra funcionar, tem que estar tudo lindamente certinho (coisa que nunca está)?
Em tempo: quais pequenas coisas poderiam ser feitas para tornar sua vida financeira minimamente sustentável mesmo quando seu sistema operacional está num dia ruim?
Reflexão importante, amigos, e perfeitamente aplicável para muitas áreas da nossa vida, para além da organização do nosso bolso.
Faça o exercício por aí: como você se comporta quando está tudo bem? E quando não está? Sua rotina, sua alimentação, seu trabalho, suas relações. O que muda?
Não deixem de dar uma olhada na entrevista completa.
Nota do autor: Este texto foi originalmente publicado em minha coluna no Valor Investe, projeto do jornal Valor Econômico.
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