Mil reais pra você (e mil pro Faustão)

Nesta semana voltei a participar de um grupo de estudos, coisa que não fazia há tempos e que foi uma parte bem importante da minha formação (ser um consultor- financeiro-não-economista tem lá seus desafios).

Estamos estudando o Misbehaving, obra do Richard Thaler, ganhador do Nobel em 2017 e provavelmente o ser humano que veste com mais propriedade o chapéu de pai da economia comportamental.

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Esse grupo, em especial, constituído por pessoas mais velhas do que eu, me proporciona uma sensação gostosa que eu não tenho em outros lugares, tipicamente frequentados por pessoas mais jovens: é um grupo que não tem pressa.

Ninguém corre para avançar rapidamente por entre os capítulos, não existe uma agenda maluca, não existe a meta de cobrir x páginas por encontro. É como se existisse uma regra implícita que berra "tomem o tempo de vocês, crianças, afobação pra quê?", sempre que surge o ímpeto de dar uma corridinha.

A antivelocidade traz bons frutos. Surgem indagações que não surgiriam em outros espaços. Questionamentos não necessariamente profundos e embasados, espaço para que um se alongue enquanto o outro enche a xícara de chá.

Nesta segunda-feira, nos divertimos (?) um tiquinho olhando essa curva aqui:

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É uma representação simplista de um comentário que o Thaler faz sobre uma das principais formulações do Bernoulli, matemático suiço. É razoavelmente simples:

Nosso contentamento cresce conforme nos tornamos mais ricos, mas o impacto de um dado evento no crescimento desse contentamento se reduz, conforme o montante já acumulado aumenta.

Uou. Fica mais fácil com um exemplo – no livro, ele utiliza o Bill Gates como personagem, aqui vou utilizar o Fulano e o Faustão.

Se o Fulano, que possui 1500 reais guardados na poupança, recebe 100.000 reais, isso provavelmente mudará a vida dele. Se o Faustão recebe 100.000 mil reais, absolutamente nada acontece, nenhuma diferença efetiva. Se ele estiver num dia ruim, inclusive, sequer vai esboçar um sorriso, não vai soltar um mero "ô loco, meu".

Uma longa, longa, longa reflexão sobre a aversão ao risco pode ser derivada desse conceito aparentemente simples, mas ficamos girando em cima dele por um bom tempo: que interessante pensarmos que a satisfação gerada por algo – dinheiro, comida, reconhecimento – varia, de acordo com nossas condições atuais.

Vejam, não é que um bolo de chocolate deixa de gerar alegria, mas sim que o terceiro bolo de chocolate gera menos alegria do que o segundo bolo de chocolate, que por sua vez gerou menos alegria do que o primeiro.

Na sua vida, nos seus anseios, algo parecido acontece? Esqueça o Fulano e o Faustão. O seu primeiro aumento de salário gerou mais alegria do que o segundo? A primeira vez que você pôde pagar uma almoço de 30 reais te gerou mais prazer do que o almoço de 30 reais que você se dá hoje?

Estou com isso na cabeça há dias e queria compartilhar essa angustia prazerosa com vocês. :)

PS: Minha capacidade cognitiva e linguística é tão menor que a do Thaler, que ele basicamente explica o que eu tentei escrever no primeiro quadrinho amarelo com uma frase ridiculamente menor e mais clara: as wealth grows, the impact of a given increment of wealth falls. Desculpem a ignorância, leiam o Thaler.

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eduardo antunes